Brasil: presente, passado e futuro | Artigo de Marcos Verlaine
O debate sucessório começou no 1º dia de mandato de Bolsonaro. No discurso de posse, o presidente da República abriu a sucessão. Ao invés de convocar o povo e as forças políticas à união para superação dos graves e endêmicos problemas nacionais fez o oposto. Trata-se, pois, de figura política fora da curva. Para dizer o mínimo, com elegância. Embora o artigo da jornalista Mariliz Pereira Jorge tenha sido invulgar. Aquele em que ela o nomina com vários adjetivos e que ele “assina o recibo”.
O debate político nacional está rebaixado, desorganizado e não aponta rumos seguros. Tudo isso tem a ver com a lógica do atual mandatário, a quem não interessa debate político racional. A ele interessa o caos, pois nesse ambiente tresloucado e esquizofrênico pode, em alguma medida, se sobressair e seguir essa trajetória rumo ao abismo autoritário.
Com a eleição de Bolsonaro, em 2018, o Brasil deu um “grande salto para trás”. O País involuiu sob todos os aspectos. A pandemia não é responsável direta por esse atraso, apenas explicitou de maneira meridiana e elevou as mazelas estruturais brasileiras à 3ª potência.
Este é o presente. Sob Bolsonaro, o País está submetido a uma regressão autoritária, e caminha, em marcha batida, para inação completa.”
O passado como imposição ao presente desmantelado
O País está tão ruim, que voltar ao passado, dar marcha à ré, por medo ou receio do futuro e do novo, pode ser a alternativa viável, afinal, o ser humano tem tendências antineofílicas (medo do novo).
O pensamento progressista — esquerda, centro-esquerda, direita e centro-direita liberal — parece, não mais se preocupar em formar quadros políticos, daí não haver novidades ou lideranças políticas que encantem e mexam com corações e mentes. Contraditoriamente, o mundo precisa disso, como estímulo. Não no sentido apenas emocional ou afetivo, pois política é lugar para a racionalidade, ainda que possa (ou precise) haver emoção e afetividade. Política são propostas e saídas das encruzilhadas. O resto é narrativa.
Esta afetação, tão comum e tradicional na política nacional e latina, mostra-se nefasta, à direita e à esquerda, pois assim não há necessidade de apresentar projetos. Não há disputa de projetos, mas de quem pode ou se apresenta como o líder “salvacionista”, na lógica sebastianista, de a volta do messias salvador.
A polarização odienta e desinteligente pós 2013 — que redundou na eleição do pior, dentre os candidatos em 2018 —, só é ‘positiva’ para as chamadas candidaturas polares.”
Por óbvio, diante do desastre, da fraude e do engodo que representa o governo atual, a volta ao passado se anuncia alvissareira. E, assim, não há espaço para nada novo, que não represente esses polos, que não permitem nada que seja crítico e alternativo, que ambas as tendências polares querem impor ao debate político-eleitoral.
Desse modo, voltar ao passado é a alternativa apresentada pelos que foram derrotados em 2018, pois ninguém em sã consciência, em comparação direta, pode negar esse dado da realidade objetiva. Entre o passado de “boas lembranças” e o presente trágico, o melhor é derrotar o segundo. Com efeito, para o bolsonarismo, entre ambos, o melhor é derrotar o primeiro, pois, por óbvio, não representam “boas lembranças” para esses.
Abrir perspectiva rumo ao futuro
O futuro, nesse debate, ou embate, ainda está perdido entre o presente e o passado, um alimentando o outro. Não há (ainda), mas é preciso construir, espaço para confrontações que fujam do figurino das obviedades polares. Em meio à tragédia econômica, da desindustrialização, só para citar dado do macro debate, enquanto o mundo em desenvolvimento e desenvolvido estuda, debate e executa a Revolução 4.0, o Brasil sequer se debruça sobre a involução industrial nacional.
Nesse debate, os neokeynesianos chamam o Brasil de “Saci Pererê”, que sob esse neoliberalismo atávico anda para trás. Enquanto o Brasil “pula” em busca do futuro, o mundo em desenvolvimento e desenvolvido “corre”, com as 2 pernas, rumo ao tempo que há de vir.
O neoliberalismo é o projeto da burguesia brasileira, que Bolsonaro abraçou cegamente, das contrarreformas, que vão aprofundando as seculares desigualdades e mazelas nacionais. O governo anterior não foi capaz de apresentar um projeto nacional de desenvolvimento e busca o liberalismo econômico, agora mais explicitamente, para mostrar ao mercado que é confiável e palatável. Não aprenderam nada, parece, com o golpe de 2016.
Sem projeto integrado de desenvolvimento, o Brasil caminha para ser uma ‘grande fazenda’ exportadora de grãos ou grande manancial exportador de commodities, como foi a Era Lula, entre 2003 e 2014. Isso não é a negação dos saltos econômicos no período citado e as várias e relevantes políticas públicas de inserção da extrema pobreza e dos pobres ao mercado consumidor. Mas aquelas políticas, hoje, são insuficientes. É preciso mais, muito mais.”
O pensamento progressista precisa buscar candidatura, sob projeto de desenvolvimento nacional, que represente essa perspectiva, que fuja das candidaturas polares e que, de algum modo, tenha a capacidade de propor e bancar o debate, por exemplo, que a Espanha fez em 1977, os famosos “Pactos de Moncloa”. O atraso político brasileiro é tão espetacularmente impressionante, que não consegue sequer fazer reformas capitalistas avançadas. É possível e preciso tentar.
Diante disso, há espaço para construção de frente ampla, sob a hegemonia do progressismo, com projeto de desenvolvimento nacional para tirar o Brasil do atraso secular, imposto por elites políticas e econômicas oligárquicas. O debate não é de quem pode mais (pelo menos não deveria ser), mas de como superar a tragédia que se abateu sobre o Brasil.
Superada essa tragédia que ora vive o País, depois cada qual busca seu rumo. Em situação de equilíbrio, de proteção e manutenção do Estado Democrático de Direito, sob um projeto de desenvolvimento nacional.
Marcos Verlaine Jornalista, analista político
e assessor parlamentar licenciado do Diap.